A aparição de “pedras pretas” na beira-mar de Nova Tramandaí, no Litoral Norte, está chamando a atenção dos veranistas que circulam pelo balneário.
É comum que as camadas sedimentares despertem dúvidas em quem anda pela beira da praia, sobretudo por uma possível toxicidade do material, mas tudo não passa de um fenômeno natural que não apresenta riscos aos banhistas.
As pedras são formadas por sedimentos finos (lamas) que ficavam no fundo de lagunas que existiam na região há milhares de anos, mas acabaram cobertas pelo avanço do mar e da faixa de areia a longo do tempo.
Isso ocorre porque, há cerca de seis mil anos, o mar gaúcho tinha outra localização, bem mais afastada do que hoje entendemos por costa.
Ali, onde agora está o mar, ficavam as lagunas cujos sedimentos formam as pedras que hoje podem ser vistas na beira da praia.
O fenômeno costuma ocorrer quando as ondas estão agitadas e a arrebentação remove mais areia do fundo do mar, permitindo que os sedimentos “subam” e sejam levados até a costa. É o que explica o professor especialista Felipe Caron, pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) e do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica da UFRGS:
— Os afloramentos ocorrem, normalmente, em condições mais energéticas, quando a areia das praias e da zona de arrebentação é removida pela ação de ondas e correntes, o que expõe estas camadas sedimentares à superfície. Em condições normais, ou seja, menos energéticas ou com maior acúmulo de areia, estes afloramentos de lamas lagunares são cobertos naturalmente (pela areia do fundo do mar).
Conforme o pesquisador, os afloramentos são relativamente comuns em diferentes regiões do litoral gaúcho. Há maior probabilidade de que ocorram na faixa costeira entre Cidreira e Tramandaí, no Litoral Norte, e na região da Praia das Maravilhas e do Balneário Hermenegildo, no Litoral Sul.
Apesar da aparência pouco convencional, as pedras pretas não são tóxicas. Felipe Caron explica que o fenômeno, além de totalmente natural, “tem relevância científica no sentido contribuir com a história geológica evolutiva do nosso litoral”.
Rochas não são tóxicas. – Camila Hermes / Agencia RBS
Rochas não são tóxicas. – Camila Hermes / Agencia RBS

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